povo brasileiro
A obra de Darcy Ribeiro pertence a uma geração de antropólogos pós-coloniais. Os que, pós-Segunda Guerra Mundial, desejavam romper com a antropologia eurocêntrica que via os habitantes de outros continentes mais atrasados como naturalmente inferiores, vocacionados para servir mais do que para mandar, sendo desqualificados para conduzir o autogoverno.
Ao mesmo tempo, ele lançou-se à obra de fazer inclinar o interesse pelas coisas do Brasil em favor do povo comum que compõe esta imensa população miscigenada e muito pobre que se abriga no país-continente.
No fluxo da época, aquela geração posicionava-se de uma maneira crítica no tocante à politica das metrópoles colonialistas, apontando sistematicamente seus defeitos e violações. Bem ao contrário dos historiadores e ensaístas brasileiros-lusitanistas das épocas anteriores.
Em oposição a Gilberto Freyre (a quem ele não deixou de devotar admiração apesar de lusófilo assumido, que viu a nação brasileira de cima do olhar do patriciado nordestino, particularmente do Pernambucano - Casa Grande e Senzala, 1933), Darcy esmerou-se em destacar o crioulo, o indígena, o caboclo, o vaqueiro, o matuto, o caipira, e tanta gente mais. Esforçou-se a realçar, desde os tempos coloniais (1500-1822), a modesta dignidade destes e sua contribuição na construção do país-nação. O livro dele, como Darcy Ribeiro abertamente confessou, não é um tratado acadêmico, mas procura a polêmica e a denúncia. É lavra de um intelectual engajado nas lutas políticas e sociais do seu país.
A sociedade brasileira na colônia e império
A dualidade da sociedade brasileira, resultado da expansão ultramarina lusitana do século 16, dava-se em dois sentidos: na relação do reinol contra os nativos (as centenas e centenas de tribos que habitavam o Brasil dos 1500), a quem a gente portuguesa tratou de submeter e reduzir à escravidão e, quase que simultaneamente, na fundação de uma unidade produtiva açucareira marcada pela relação do senhor