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(in wook.pt)
Comentário:
Morreu Fernando Pessoa. Ricardo Reis, seu heterónimo e médico renomado no Brasil, regressa a Portugal. Instalado num hotel de Lisboa, Reis recebe a visita regular de Pessoa, que sai do túmulo para esse efeito. Não é um fantasma; não é o corpo de pessoa; não é, no entanto, apenas espírito. É e não é; é, sem ser. Um fingidor, como sempre, este Pessoa.
É neste tom algo surrealista que decorre este magnífico romance de Saramago, o que se seguiu ao memorável Memorial do Convento.
Ao longo do enredo, Reis apaixona-se por Marcenda mas é Lídia, a criada de quarto quem lhe aquece a cama. O amor num triângulo. E o narrador, esse, constrói outros triângulos com outros vértices. Num certo sentido estamos perante um romance geométrico. Senão vejamos: um dos segredos do sucesso de José Saramago está na sua imensa capacidade de se colocar na mente dos personagens, revivendo-os, repensando-os e fazendo-nos entrar nas suas mentes. Narrado, personagem e leitor formam aqui o primeiro triângulo. Depois ele prolonga-se: a mente de Saramago transfere-se para a de Ricardo Reis: do prosador