Português
Deram-me o silêncio para eu guardar dentro de mim
A vida que não se troca por palavras. Deram-mo para eu guardar dentro de mim
As vozes que só em mim são verdadeiras.
Deram-mo para eu guardar dentro de mim
A impossível palavra da verdade.
Deram-me o silêncio como uma palavra impossível,
Nua e clara como o fulgor duma lâmina invencível,
Para eu guardar dentro de mim,
Para eu ignorar dentro de mim
A única palavra sem disfarce
A Palavra que nunca se profere.
Adolfo Casais Monteiro
O poema “A palavra impossível” cujo autor é Adolfo Casais Monteiro contém 12 versos contidos em 4 estrofes. O texto poético contém 3 dísticos e 1 sextilha, respetivamente. Nas 3 primeiras estrofes existem versos soltos ou brancos e na última estrofe, existe rima emparelhada, pobre e consoante, enquanto que nos últimos 2 versos a rima é rica e consoante. Quanto à escansão métrica, os versos são heterométricos.
Ao longo do poema, o sujeito poético indica-nos o significado do silêncio, aquele que não existe. Aquele que não se troca por palavras. O silêncio é uma palavra impossível, que por vezes, vale mais que mil palavras. É uma palavra que nunca se transmite, invencível. Existem alturas em que o silêncio é a melhor opção.
O sujeito lírico revela lealdade, impossibilidade e nomeadamente a capacidade da liberdade dentro de nós pois o silêncio não se transmite, sente-se, pratica-se, “a vida não se troca por palavras”.
Na composição poética, o primeiro verso de cada estrofe representam uma anáfora. Nos dois primeiros versos da última estrofe existe uma comparação e uma personificação (palavra impossível, nua e clara). Existe também uma anáfora no terceiro e quarto verso da sextilha (Para... Para…). Existe uma repetição no primeiro verso dos tercetos e no terceiro verso da sextilha (…para eu guardar dentro de mim). Há uma personificação e simultaneamente uma adjetivação expressiva (atribuição de um adjetivo a uma só