Português
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: -Em que espelho ficou perdida a minha face?
Soneto de separação
De repente do riso fez-se o pranto silencioso e branco como a bruma e das bocas unidas fez-se a espuma e das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento que os olhos desfez a última chama e da paixão fez-se o pressentimento e do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente fez-se de triste o que se fez amante e de sozinho o que se fez contente
fez-se do amigo próximo o distante fez-se da vida uma aventura errante de repente, não mais quis que de repente. José
E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora José? e agora, você? você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama, protesta? e agora José? (...) Sozinho no escuro qual bicho-do-mato sem teogonia, sem parede nua para se encostar, sem cavalo preto que fuja a galope, você marcha, José! José, para onde?
No Meio do Caminho
No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra.
Poema de Sete Faces
Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida. (...) Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto