portugues
In: Inglês de Souza. Contos amazônicos, 1893.
Eram sete horas, a noite estava escura, e o céu ameaçava chuva.
Terminara a ceia, composta de cebola cozida e pirarucu assado, o velho Salvaterra dera graças a Deus pelos favores recebidos; a sora Maria dos Prazeres tomava pontos em umas velhas meias de algodão muito remendadas; a Anica enfiava umas contas destinadas a formar um par de braceletes, e os dois rapazes, espreguiçando-‐se, conversavam em voz baixa sobre a última caçada. Alumiava as paredes negras da sala uma candeia de azeite, reinava um ar tépido de tranqüilidade e sossego, convidativo do sono. Só se ouviam o murmúrio brando do Tapajós e o ciciar do vento nas folhas das pacoveiras. De repente, a Anica inclinou a linda cabeça, e pôs-‐se a escutar um ruído surdo que se aproximava lentamente.
-‐ Ouvem? -‐ perguntou.
O pai e os irmãos escutaram também por alguns instantes, mas logo concordaram, com a segurança dos habitantes de lugares ermos:
-‐ É uma canoa que sobe o rio.
-‐ Quem há de ser?
-‐ A estas horas, -‐ opinou a sora