Portugues
GILBERTO DIMENSTEIN
O universitário brasileiro não gosta de ler jornais e livros, rejeita as atividades extracurriculares da escola e estuda pouco – menos de cinco horas por semana. Apenas
28% dos futuros médicos, por exemplo, leem um único livro não escolar durante o ano; os demais nem isso. Só 40% dos estudantes de direito, administração e economia consultam diariamente o jornal. A média para todos os cursos é de 23%. Coletados pelo
Ministério da Educação com os alunos que fizeram o provão, esses dados sobre os hábitos culturais são tão ou mais importantes do que as notas dos cursos, divulgadas na semana passada. Esse buraco cultural é devastador.
É quase impossível alguém progredir, de fato, profissionalmente se não tiver o hábito de leitura constante de jornais, livros e revistas. Meios eletrônicos como a TV, por melhor que sejam os programas, não permitem o aprofundamento da informação. A construção do conhecimento exige a palavra impressa. Falamos aqui da suposta elite cultural da nação, a minoria que, depois de todos os obstáculos, conseguiu concluir a faculdade. A pesquisa confia na palavra dos entrevistados. Uma investigação mais rigorosa encontraria números piores. Já foram feitos testes com adolescentes que se diziam leitores. Os pesquisadores pediram-lhes que encontrassem uma determinada notícia de economia. Constatou-se que muitos não tinham o hábito de folhear o jornal; ler significava, para eles, dar uma passada de olhos. Se considerarmos o tipo de assunto que interessa ao leitor habitual do jornal ou a qualidade do livro, vamos ver que o desastre é mais profundo.
Por melhor que seja a faculdade, o diploma se torna uma bobagem se o aluno pára de estudar e deixa de fazer pesquisa por conta própria. O prazer da pesquisa é onde se estabelece a diferença entre quem quebra a cara e quem prospera. O novo conceito de analfabetismo inclui o domínio da informática, mais particularmente da Internet, e