Portos de passagem GERALDI
1992, 252 p.
Leio Portos de Passagem com simpatia, profunda simpatia, naquele sentido que Fernando Pessoa dá a esta palavra na Nota Preliminar ao livro
"Mensagem" - como uma das qualidades indispensáveis ao entendimento do simbólico e oposta à atitude cauta e irônica, que priva o intérprete
"da primeira condição para poder interpretar". Com simpatia, portanto, mas igualmente com muita vontade de compreender, leio "Portos de Passagem" e encontro, a cada parágrafo, a lembrança da voz e do gesto apaixonado de um professor em suas andanças pelo Brasil, a ensinar.
Ensinar o quê? A ensinar, primeira, que "sobre muitas coisas o que sabemos é muito pouco". E que ô possível uma outra proposta do ensino da
Iíngua portuguesa: o ensino como aventura e como produção de conhecimento, por alunos e professores.
Seu texto é vivo, porque vivido. Cada página denuncia a experiência. Os muitos anos de trabalho como professor, desde os tempos de bancário no interior do Rio Grande do Sul, até as conferências, livros e textos como mestre e doutor em Lingüística na Unicamp, estão ali registrados como processo e convite: aos leitores e companheiros de jornada, que a caminhada continue. "Navegantes, navegar é preciso viver".
Assim, num confronto insistente com o vivido, os três capítulos de "Portos de Passagem" contemplam: uma discussão teórica sobre as conseqüências de se assumir uma determinada concepção de linguagem; a compreensão dos problemas que caracterizam a eterna crise do ensino da língua, a partir da definição do papel do professor como produtor ou reprodutor do conhecimento; e, finalmente, a tematização das práticas de produção e leitura de textos, e das reflexões sobre a linguagem.
"De qualquer forma estamos sempre definindo rotas - os focos de nossas compreensões", diz o autor. E, no roteiro dessa viagem, Geraldi se define: o objetivo é dar à linguagem a importância que ela tem. Ou seja, definir o ensino da