Por uma ética da responsabilidade solidária
. Capítulo 8
[texto extraído de: J. M. Sung e J. C. da Silva, Conversando sobre Ética e Sociedade. Rio, Ed. Vozes, 1997]
Durante as nossas “conversas” tentamos ir tornando mais claro o que é ética e as implicações éticas da vida em sociedade. Cremos que já temos informações suficientes para tirar algumas conclusões.
Como vimos, na modernidade tentou-se substituir a moral essencialista da Idade Média, que regulava todas as esferas da vida social, pela moral Individualista, onde cada um é, ao mesmo tempo, o seu próprio legislador e juiz. E aquele que cria as regras de conduta pessoal e as aplica de acordo com critérios racionais e seus interesses pessoais. Assim, a moral se tornou um assunto estritamente privado, separado da vida pública.
Do mesmo modo como cada indivíduo se tornou autônomo para julgar o que é melhor para si, cada esfera da vida (economia, política, direito, arte etc.), também criou suas regras internas e autônomas de funcionamento. Por exemplo, a economia passou a ser gerida pelos princípios do sistema de mercado, e a política pelas regras do jogo do poder.
A separação das esferas da vida sociocultural serviu para o grande avanço de cada uma delas. É inegável, por exemplo, que a ciência, ao se libertar do caráter meramente especulativo que tinha na Idade Média, produziu grandes avanços. Mas ao lado dos avanços alcançados na era moderna encontram-se também aspectos perversos nascidos dos seus excessos, como as terríveis armas nucleares capazes de destruir a humanidade inteira a qualquer momento.
Assim como a moral individualista levou ao consumismo, que passou a ser o próprio espírito do capitalismo, a fragmentação das esferas da vida social levou a uma desarmonia entre a ação de cada uma delas e o conjunto da sociedade. Com o atual estágio do desenvolvimento tecnológico, já seria possível fornecer educação, saúde e alimentação para toda humanidade. Mas, dois