por uma vida melhor
Introdução
Neste ensaio, tenho por objetivo apresentar uma (re)leitura da polêmica a respeito do livro didático Por uma vida melhor a partir dos Novos Estudos de Letramento (NEL/NLS). Entendido letramento, nessa perspectiva, como práticas sociais situadas e sensíveis à sua articulação com as relações de poder, busco sustentar que a repercussão midiática negativa sobre o livro estaria relacionada a uma concepção de leitura, escrita e oralidade ideologicamente ligada apenas às práticas valorizadas de uso da língua e isolada dos contextos sociais em que essas práticas se inserem. Assim, em um diálogo com a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, analiso essa repercussão como o disseminar de uma "única história" sobre o livro didático em questão e procuro propor uma leitura da polêmica que considere a sua relação com algumas concepções sociais de letramento e que privilegie um conceito mais amplo do termo, capaz de recobrir também as práticas vernaculares locais.
Texto
Aceitar a expressão “nós pega o peixe” como parte de uma linguagem adequada causa estranhamento e – em alguns casos – indignação de brasileiros zelosos pela língua culta. Mas a linguagem popular, considerada por linguistas como uma forma de comunicação válida e com regras próprias, é também usada em salas de aula.
Porém, lendo ou não o livro, o fato é que a instituição escolar convive há décadas com um problema muito mais sério do que dominar ou não a forma culta da língua portuguesa. Refiro-me à pouquíssima atenção que vem sendo dada à formação de massa crítica,