Por que o marxismo não é um materialismo mecanicista?
No entanto, é preciso distinguir o materialismo marxista, que é dialético, do materialismo anterior a ele, conhecido como materialismo mecanicista ou “vulgar”.
Este se funda numa causalidade linear que simplifica grosseiramente a ação da matéria sobre o espírito, não permitindo ao homem nenhuma possibilidade de liberdade, O pensamento é reduzido a uma secreção do cérebro, e a ação humana é determinada pelas condições materiais das quais não pode fugir.
Enquanto o materialismo mecanicista parte da constatação de um mundo composto de coisas e, em última análise, de partículas materiais que se combinam de forma inerte, o materialismo dialético parte da consideração de que os fenômenos materiais são processos. Tal mudança de enfoque se tornou possível porque no século XIX as ciências descobrem novas formas de movimento além do movimento mecânico de simples mudança de lugar ou deslocamento: a descoberta da transformação da energia, a descoberta da célula viva e a descoberta da evolução das espécies. Essas novas formas indicam a possibilidade da mudança qualitativa. O mundo não é uma realidade estática, não é um relógio, um mecanismo regulado pelo “divino relojoeiro”, mas é uma realidade dinâmica, é um complexo de processos. Por isso, a abordagem da realidade só pode ser feita de maneira dialética, que considera as coisas na sua dependência recíproca, e não-linear.
No contexto dialético, também o espírito não é consequência passiva da ação da matéria, podendo reagir sobre aquilo que o determina. Isso significa que a consciência do homem, mesmo sendo determinada pela matéria e estando historicamente situada, não é pura passividade: o conhecimento do determinismo liberta o homem por meio da ação deste sobre o