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Na época era Outubro e havia uma festa na minha escola, da qual não me recordo o tema, aonde todos os alunos vestiam-se de personagens de alguma historinha encantada para tirar uma foto. Eu tinha lido três, mas a que mais me encantava era a história da Cinderela, a gata borralheira salva pelo príncipe, mas não era a Cinderela que eu queria ser, eu queria ser a Fada Madrinha. Aquela que realizava os desejos dos outros e meu desejo era ficar com os cabelos soltos. Isso era um desejo que minha mãe me negava e eu sabia que fada madrinha poderia realizar. Minha mãe dizia:
- Pra quê ficar de cabelo solto? Pra embaraçar e eu ter trabalho?
Aquilo me frustrava. Eu queria que meus cabelos ficassem soltos. Meus cabelos soltos me davam um prazer tremendo e uma sensação de liberdade. Minha mãe dizia que meu cabelo era muito enrolado que precisava ficar preso, consequentemente “eu ficava presa”. A festa da escola era o momento de realizar o meu desejo de ser livre por alguns instantes.
O dia tão esperado chegou, dessa vez minha mãe não poderia me negar os cabelos soltos. No dia anterior eu tinha esperneado para convencê-la. Deu certo. No horário para ir à escola tomei banho, minha mãe veio me ajudar a lavar os cabelos. Eu estava ansiosa. Enquanto me arrumava ficava me perguntando se minha mãe ia prender o meu cabelo para só soltar na escola. Então resolvi perguntar.
- Mainha a senhora vai me deixar ir de com o cabelo solto?
- Não é assim que você quer? Agora quando você chegar em casa e eu for pentear e você chorar você vai apanhar bonito.
Eu fiquei tão feliz, mas tão feliz que nem a ameaça da surra tirou minha felicidade. Quando saiamos de casa passou uma senhora conhecida nossa e disse:
- Olha como ela está bonita hoje.
Pronto era o que faltava para minha felicidade ficar completa. Eu estava completamente realizada.
No caminho para escola eu balançava tanto a cabeça para ver o movimento do cabelo na sombra que minha disse que eu ficaria com o pescoço troncho.