Política e Religião
O estado liberal-democrático, o típico estado moderno, é dito laico. Por ser laico, no contexto da doutrina liberal, ele é neutro e não propriamente religioso. Todavia, a política não é feita só no estado, ainda que seja feita para ganhar o controle dos mecanismos de poder do estado, por um determinado período. A política é feita na sociedade, entre grupos e indivíduos. Tanto os eleitores quanto os candidatos fazem “a política” na “época da política”. Essas pessoas são religiosas ou quase isso, ainda que dentro de padrões dos tempos modernos.
Como a religião é, no seu maior eixo, normativa, ou seja, diz ao seu servidor o que os deuses querem que ele faça, e que em geral nada é senão uma interpretação do ethos de um povo, então é claro que, para conhecer uma pessoa não é de todo inútil conhecer sua religião. Popularmente é mais fácil ter uma ideia de uma pessoa perguntando sobre sua ética e sua moral, ou seja, sua religião. Isso pode levar a um total equívoco, mas não deixa de ser um instrumento válido, quando não há outro. Desse modo, mesmo que o eleitor escolarizado saiba que no comando do governo o então candidato não poderá atuar sob o comando de diretrizes religiosas, ele não vê inutilidade em saber aspectos morais desse candidato. Assim, conhecer o que o candidato pensa sobre religião é, em todas as democracias do mundo moderno ocidental, alguma coisa que sempre tem lá seu valor.
Por isso, é uma enorme bobagem sem cabimento as pessoas acharem que elas podem se livrar da religião porque entraram na política moderna. E nesse sentido, é também uma bobagem que as pessoas não queiram permitir que os candidatos se refiram às posições religiosas, suas próprias e a de outros.
Aborto, eutanásia, casamento gay, direitos de minorias, educação infantil etc. são matéria de deputados, mas não deixam de ser, indiretamente, matéria de governadores e do presidente da República. São