Política e medialidade nas redes digitais
Vivemos num contexto em que os dispositivos eletrônicos de comunicação em rede são cada vez mais presentes em nossas vidas, tanto nas tarefas profissionais como nas atividades do nãotrabalho. De fato, talvez o computador seja o objeto que melhor agencie a superação da distinção entre tempo de trabalho e tempo do não-trabalho, muitas vezes realizando misturas e interpenetrações entre eles, tornando cada vez mais difícil a delimitação. Um dos slogans mais comuns nos anúncios dos novos computadores pode ser traduzido na seguinte frase: “o trabalho e o lazer no mesmo lugar!”.
A superação desta fronteira talvez seja uma das grandes transformações provocadas pela combinação dos dispositivos eletrônicos-digitais à comunicação do tempo-real. Do ponto de vista econômico, trata-se da possibilidade de codificação de todas as ações mediadas pelo computador em uma informação passível de ser mensurada (ou assimilada como valor afetivo) e transformada em valor monetário. Tal transformação dá-se num contexto de profunda mutação do capitalismo, em que as atividades de caráter imaterial (cognitivas, comunicacionais, relacionais) adquirem maior importância nos processos de geração de valor (Gorz, 2005). Ora, a combinação de uma existência cada vez mais mediada pelas tecnologias de comunicação em rede somada às tendências de apropriação privada do commons1 inaugurado pelo digital, cria a possibilidade de transformar quase a totalidade de nossas vidas em mercadorias, bem como transformar as mercadorias numa economia de afetos, intercambiáveis e descartáveis.
O risco existe justamente sob uma forma de convergência de três tendências em curso: (a) quando nossas vidas (ou parte de nossas ações, comportamentos, relacionamentos) tornam-se passíveis de serem traduzidas e codificadas sob a forma digital, na medida em que qualquer ação no computador é geradora de informações sobre seu usuário; (b) quando a esfera macro-política se