Política educacional
A teoria do habitus em Pierre Bourdieu: uma leitura contemporânea
Maria da Graça Jacintho Setton
Universidade de São Paulo, Faculdade de Educação
Introdução Como apreender a especificidade do modelo de socialização na atualidade? Como compreender a particularidade do processo de construção das identidades a partir das mudanças estruturais e institucionais das agências tradicionais da socialização? Proponho responder a essas questões pela análise da emergência de uma nova configuração cultural, em que o processo de construção dos habitus individuais passa a ser mediado pela coexistência de distintas instâncias produtoras de valores culturais e referências identitárias. Proponho considerar a família, a escola e a mídia no mundo contemporâneo como instâncias socializadoras que coexistem numa intensa relação de interdependência. Ou seja, instâncias que configuram hoje uma forma permanente e dinâmica de relação (Elias, 1970; Setton, 2002). Parto da hipótese de que o processo de socialização das formações modernas pode ser considerado um espaço plural de múltiplas relações sociais. Pode ser considerado um campo estruturado pelas relações dinâmicas entre instituições e agentes sociais distinta60
mente posicionados em função de sua visibilidade e recursos disponíveis. Salientar a relação de interdependência entre as instâncias e agentes da socialização é uma forma de afirmar que as relações estabelecidas entre eles podem ser de aliados ou de adversários. Podem ser relações de continuidade ou de ruptura. Podem, pois, determinar uma gama variada e heterogênea de experiências singulares de socialização.1 Dessa forma, saliento que pensar as relações entre a família, a escola e a mídia com base no conceito
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Estas reflexões foram desenvolvidas em minha pesquisa
de pós-doutorado intitulada Trajetórias acadêmicas: um estudo sobre as estratégias de transformação da ordem, iniciada em 2000, na École de Hautes Études en Sciences