Política de hedge financeiro e estratégia de negócios
A crise financeira mundial e seus reflexos sobre a taxa de câmbio brasileira trouxeram grande destaque na mídia para as operações de hedge cambial realizadas por empresas não financeiras. Companhias com forte exposição das receitas ao dólar surpreenderam seus acionistas com perdas relevantes, em um momento no qual a desvalorização do real deveria melhorar seus resultados ao longo do tempo. A quantidade de empresas envolvidas e a dimensão dos prejuízos renderam um viés perigoso a esse tipo de operação, que tem sido freqüentemente rotulado como “aposta” ou “jogatina”.
Em muitos casos, a política de hedge das empresas é fortemente determinada por uma visão de curto prazo, em um contexto de tesouraria. Nestas situações, o momento do mercado, porém, exerce grande influência sobre essas decisões, ou seja, em épocas de bonança, o hedge perde sua importância; em momentos de instabilidade, volta com todo vigor. Essa dinâmica pode acarretar um descasamento entre as posições assumidas pela empresa e as diretrizes do conselho de administração. Neste sentido, o acionista passa a estar exposto – além do risco do setor de atuação da companhia – ao risco de trading especulativo.
A implementação de uma política de hedge, no entanto, pode ser uma importante alavanca de valor da empresa. O propósito do hedge é reduzir a volatilidade dos fluxos de caixa e a exposição a determinados fatores de risco, com objetivo de proteger as margens operacionais. A maior estabilidade dos fluxos de caixa operacionais diminui o risco de sub-investimento, isto é, a perda de oportunidades lucrativas, devido à falta de capacidade financeira para investir. Adicionalmente, a política de hedge agrega valor ao reduzir a probabilidade de “financial distress” — situação na qual a empresa ainda não está inadimplente, mas a sua situação financeira pode comprometer o desempenho comercial. Por exemplo, consumidores podem sentir-se receosos de