Poluição das águas
: duas faces da mesma moeda
A seção “Química e sociedade” apresenta artigos que focalizam diferentes inter-relações entre ciência e sociedade, procurando analisar o potencial e as limitações da ciência na tentativa de compreender e solucionar problemas sociais. Este artigo discute de maneira geral a poluição do meio ambiente e, mais especificamente, a das águas. Apresenta as várias formas de poluição que afetam as nossas reservas d’água, exemplos de minimização de rejeitos e uma síntese das tecnologias disponíveis para o tratamento de efluentes. água, meio ambiente, poluição, tratamento de água
Eduardo Bessa Azevedo
O que é poluição?
Antes de podermos discutir algumas questões ligadas à qualidade das águas, temos que entrar em acordo sobre o que entendemos por ‘poluição’. É uma palavra com muitos significados: alguns técnicos, outros emocionais; uns rigorosos, outros flexíveis. Sem a pretensão de definir o termo, podemos, para os fins deste artigo, encarar a poluição como um caso de ‘matéria no lugar errado’: a poluição ocorre quando há excesso de uma substância, gerada pela atividade humana, no sítio ambiental errado. Esse tipo de definição, embora não seja adequada para uma análise científica rigorosa, é extremamente útil por nos permitir a discussão de uma série de pontos de vital importância.
Critério de pureza ambiental
O primeiro desses pontos é o questionamento do que entendemos por ‘pureza’ do meio ambiente. Se, quando pensamos em pureza, imaginamos algo que “não está contaminado por nenhuma outra substância”, então não existe uma única gota d’água pura em nosso ambiente. As águas dos poços, fontes, lagos, rios, mares e oceanos
contêm quantidades extremamente variáveis de uma série de sais dissolvidos. Mesmo a água da chuva chega ao solo já ‘contaminada’ pelo gás carbônico presente na atmosfera (entre outros). A água mais pura que se conhece é aquela encontrada nos laboratórios, após ter sido passada várias vezes por