POlly Cavalcanti
Neste artigo apresento uma reflexão sobre o processo de análise qualitativa de estudos com base empírica. O texto tem duas fontes de inspiração: a primeira são os vários autores com os quais venho dialogando durante mais de 25 anos. A segunda é minha própria vivência como investigadora, orientadora de teses e de dissertações e como professora na área de saúde coletiva.
Começando pela minha experiência, ressalto que de todas as demandas que recebo de estudantes e colegas, a mais recorrente diz respeito a como fazer análise do material qualitativo. É como se todas as outras fases da pesquisa, a preparação do projeto e o trabalho de campo configurassem etapas muito simples e fáceis de serem resolvidas, em contraposição às dificuldades de como tratar os achados empíricos e documentais. Essa preocupação procede, pois é diferente dos estudos quantitativos em que os dados colhidos de forma padronizada e tratados com técnicas de análise sofisticadas oferecem ao pesquisador certa segurança quanto à fidedignidade de seu estudo. Uma segurança que a rigor deveria ser questionada1. No caso da pesquisa qualitativa, muitos outros problemas - que na verdade são parte de sua própria contingência e condição - dificultam saber de antemão se as informações recolhidas e as análises elaboradas poderiam ser consideradas válidas e suficientes.
Divido este trabalho em duas partes. Na primeira, mostro que uma boa análise começa com a compreensão e a internalização dos termos filosóficos e epistemológicos que fundamentam a investigação e, do ponto de vista prático, desde quando iniciamos a definição do objeto. Na segunda parte, discorrei sobre o processo da análise propriamente dito.
Fazer ciência é trabalhar simultaneamente com teoria, método e técnicas, numa perspectiva em que esse tripé se condicione mutuamente: o modo de fazer depende do que o objeto demanda, e a resposta ao objeto depende das perguntas, dos instrumentos e das