politica
Estamos aqui diante das expressões mais puras da democracia -- do governo do povo pelo povo que os publicistas e historiadores, como Max
Weber e Mac Iver, chamam Estado-aldeia, ou aldeia-Estado. É certamente a mais primitiva forma de democracia no mundo: vem do fundo dos séculos, emerge dos horizontes da Pré-história. Desde o período neolítico, a humanidade ariana conhece e vem praticando esta forma de Estado, este regime de pura democracia. Conta ele seguramente de três a cinco mil anos; tantos quantos os da chegada dos lígures no continente da Europa. Surgiu naturalmente como o primeiro núcleo humano que se constituiu junto ao olho-d’água ou à torrente que irrigou a primeira veiga lavradia, depois que o homem descobriu, na expressão de Camille Jullian, o "poder agrícola da terra"(5).
Poderíamos ter invocado, para ilustrar essa nossa afirmação, a
Europa Germânica, a Europa Escandinava, a Europa Celta ou a Europa
Eslava; mas, preferimos invocar a Europa Ibérica e nela, especialmente, a velha Espanha, com as suas comunidades ou pueblos, de tipo agrário, que enxameiam, vivazes, todo o seu território. Não direi que seja ela, neste ponto, a terra mais original da Europa; mas, é certo que é uma das mais originais. Em nenhuma encontramos maior variedade destas "comunidades de aldeia" -- ou agrícolas, ou pecuárias, ou de água, ou de pesca: -- e o panorama histórico e etnográfico, que delas nos traça o admirável Joaquim
Costa no seu Colectivismo agrario, abarca a Espanha na totalidade quase do seu território. Os interesses locais da terra, da produção, da vida dos habitantes são regidos, ali, por instituições próprias, populares e costumeiras, cujas origens se perdem nos horizontes da Pré-história e que vivem e funcionam ao lado das oficiais, criadas pelo Estado, sediado em Madri.
O que nos descreve Costa no seu livro é a velha instituição da
"comunidade de aldeia", na sua simplicidade primitiva e originária, tal como a praticavam os iberos