Politica
PSICOPATOLOGIA
ano VIII, n. 4, dez/ 2 0 05
Rev. Latinoam. Psicopat. Fund ., VIII, 4, 769-787
A abordagem fenomenológica em psicopatologia*1
Karl Jaspers
A subjetividade dos eventos psíquicos
Ao exame de um paciente psiquiátrico é comum a distinção entre sintomas objetivos e subjetivos. Sintomas objetivos incluem todos os eventos concretos que podem ser percebidos pelos sentidos, e.g. reflexos, movimentos registráveis, a fisionomia de um indivíduo, sua atividade motora, expressão verbal, produções escritas, ações e conduta geral etc. Todos os rendimentos mensuráveis, como a capacidade de trabalho do paciente, sua habilidade para aprender, a magnitude de sua memória, além de outros, pertencem a esse domínio. Também é comum incluir, entre os sintomas objetivos, manifestações como idéias delirantes, falsas memórias etc.; em outras palavras, os conteúdos racionais que o paciente nos comunica. Estes, realmente, não são percebidos pelos sentidos, mas apenas compreendidos. No entanto, tal “compreensão” é alcançada por meio do pensamento racional, sem auxílio de qualquer empatia para com o psiquismo do paciente.
*
Texto originalmente publicado em Z eitschrift für die Gesamte Neurologie und
Psychiatrie, em 1912. Tradução para o português, de Adriano C. T. Rodrigues.
R
E
V
I
S
TA
LATINOAMERICANA
DE
PSICOPATOLOGIA
FUNDAMENTAL
ano VIII, n. 4, dez/2 0 05
Sintomas objetivos podem ser direta e convincentemente demonstrados a qualquer um com capacidade senso-perceptiva e de pensamento racional; mas os sintomas subjetivos, para serem compreendidos, devem se referir a algum processo que, contrastando à senso-percepção e pensamento lógico, é normalmente descrito pelo mesmo termo “subjetivo”. Sintomas subjetivos não podem ser percebidos pelos órgãos sensoriais, tendo de ser apreendidos pela transposição de si mesmo, por assim dizer, ao psiquismo de outro indivíduo; isto é, pela empatia. Podem se tornar uma realidade