Pol Ticas De Cotas Raciais O Caso Da UNB
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POLÍTICA DE COTAS RACIAIS, OS “OLHOS DA SOCIEDADE”
E OS USOS DA ANTROPOLOGIA: O CASO DO VESTIBULAR
DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UNB)*
Marcos Chor Maio
Fundação Oswaldo Cruz – Brasil
Ricardo Ventura Santos
Fundação Oswaldo Cruz e Museu Nacional/Universidade Federal do
Rio de Janeiro – Brasil
Resumo: A Universidade de Brasília (UnB) foi a primeira instituição de ensino superior federal a adotar um sistema de cotas raciais para ingresso através do vestibular, a partir do segundo semestre de 2004. A iniciativa da instituição, devido sobretudo à estratégia de estabelecer uma comissão para homologar a identidade racial dos candidatos a partir da análise de fotografias, gerou um intenso debate na sociedade, que se estendeu para muito além da comunidade universitária. Sugerimos que ao lidar com uma questão sociopolítica, ou seja, procurar estabelecer um privilégio para determinado grupo com o intuito de corrigir injustiças históricas e, ao mesmo tempo, controlar os potenciais
“burladores raciais”, o aparato acadêmico-burocrático da UnB, em aliança com o movimento negro, buscou mobilizar parâmetros supostamente objetivos. Esses critérios, afeitos a uma sorte de anátomo-psicologia racial, geraram uma temporada de disputas científico-políticas de amplo espectro, na medida em que os próprios critérios estabelecidos foram objeto de controvérsias. Um aspecto particularmente significativo é que no caso UnB há o acionamento de temas caros
* A primeira versão deste artigo foi apresentada no seminário temático “Formação de Estado e Construção da Nação: Perspectivas Sociogenéticas e Antropológicas na Análise de Processos
Sociais no Brasil Contemporâneo”, realizado durante o XXVIII Encontro da Associação
Brasileira de Pós-Graduação em Ciências Sociais, Anpocs, Caxambu, Minas Gerais, de 26 a
30 de outubro de 2004, coordenado por Antônio Carlos Souza Lima, Piero de Camargo
Leirner e Gilberto Hochman. Agradecemos o auxílio de Claúdia Garcia e também