Poiética
Valéry resgatou o termo poética do conservadorismo, buscou sua raiz etimológica na palavra poïein do grego, e a redefiniu como o simples fazer que resulta no que ele chama de obra de espírito. A poética de Valéry é sensível e espontânea, refere-se ao instante único no qual o artista-criador se volta para o espírito, momento em que confina em seu próprio ato, transcendendo-o. O resultado visível dessa exploração, ou seja, o objeto material, não se conecta ao espírito, pois conforme a sua narrativa "a obra de espírito existe como ato"¹, depois de terminada a ação torna-se apenas um detrito. É mais importante "a ação que faz do que a coisa feita"² e, é essa experiência única que possui valor para o produtor, mas em contrapartida para o consumidor o que possui valor é o rastro da ação, o objeto físico.
O fazer tem maior relevância, pois é o momento no qual o indivíduo explora seu subjetivo, alcança "o seu ser mais interior"³, se coloca na obra e a obra torna-se o próprio autor. Apesar dessa transcendência ser subjetiva e espontânea, o sujeito é "mais ou menos consciente do efeito que será produzido e de suas consequências"4. Embora , Passeron siga essa mesma linha de pensamento, ele vai além, coloca que a poiética é condicionada pela estética - " totalidade do mundo recebido: pessoal, histórico, fundamental"5 , uma conduta criadora.
Diverso de Valéry que foi predominantemente filosófico, Passeron leva a poiética ao âmbito da razão, a coloca como uma ciência da arte, "a própria razão é uma obra"6. Sendo uma ciência o termo criação é uma ofensa, inclusive o mesmo era substituído por "estética prática". Somente após a fundação da Sociedade Poiética em 1989 teve seu