Poesia nossa que estais nos céus
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Poesia nossa que estais no céu Poesia é um saco. Reza a lenda que a primeira impressão é a que fica. E foi essa péssima impressão que a poesia me deixou. Também não é pra menos: me obrigaram a ler Olavo Bilac na sétima série. Predileção pelo soneto, rimas ricas e preciosas, distanciamento do eu poético, função metalinguísticas e preocupação formal podem até ser bonitas palavras apreciadas pelos parnasianos, mas soavam como objetos de tortura para uma menina de 12 anos que precisava decorá-las para passar de ano. O texto poético, os versos escritos que me tiravam o sono podem desaparecer, sumir, morrer... sem nenhum problema. A poesia, jamais. A poesia não está morta, e juro que faço minha parte para mantê-la viva. Resumir a poesia a versos é medíocre. É condensar toda a beleza da vida em papéis. E o que é a beleza da vida? É ouvir sua música preferida no rádio em meio ao trânsito caótico. É chegar em casa depois de um cansativo dia de trabalho, tirar os saltos e sentir como a frieza da cerâmica alivia o ardor das bolhas nas solas dos pés. É o sabor gratificante daquela receita da internet que deu certo. É receber uma mensagem de texto de alguém especial no meio de uma reunião de negócios. É deitar no colo da avó para discutir sobre o último capítulo da novela. É admirar o reflexo da lua cheia no asfalto. É aprovar seu reflexo no espelho. É espelhar-se num futuro melhor, atingir metas (nem que seja trocar o elevador pelas escadas), entender novas metáforas (nem que sejam piadas!). É rir dos próprios tombos sem deixar de aprender com eles. Portanto, sem esse papo furado de que a correria da modernidade matou a poesia. Poesia não demanda tempo, e sim intensidade, sensibilidade, sensações. E a inspiração do cotidiano vem justamente da aspereza da lambida de um cachorro contrastando com o veludo da capa de um livro velho. É o frio na barriga da decolagem de um avião, é a combinação de frio, filme e chocolate quente. É o calor do sol que bronzeia a pele, é calor