POESIA MITOLOGIA
Canção de Outono
Perdoa-me, folha seca, não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo, e até do amor me perdi.
De que serviu tecer flores pelas areias do chão se havia gente dormindo sobre o próprio coração?
E não pude levantá-la!
Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza é que sou triste e infeliz.
Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão velando e rogando aqueles que não se levantarão...
Tu és folha de outono voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade
- a melhor parte de mim.
E vou por este caminho, certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento, menos que as folhas do chão...
Cecília Meireles
Amor Não Correspondido
O MOÇO Teu nome foi um sonho do passado;
Foi um murmurio eterno em meus ouvidos;
Foi som de uma harpa que embalou-me a vida;
Foi um sorriso d'alma entre gemidos!
Teu nome foi um echo de soluços,
Entre as minhas canções, entre os meus prantos;
Foi tudo que eu amei, que eu resumia,
Dores, prazer, ventura, amor, encantos!
Escrevi-o nos troncos do arvoredo,
Nas alvas praias onde bate o mar;
Das estrellas fiz letras, soletrei-o
Por noite bella ao morbido luar luar!
Escrevi-o nos prados verdejantes
Com as folhas da rosa ou da açucena!
Oh! quantas vezes n'aza perfumada
Correu das brisas em manhan serena?!
Mas na estrella morreu, cahio nos troncos,
Nas praias se apagou, murchou nas flores;
Só guardada ficou-me aqui no peito
- Saudade ou maldição dos teus amores >>.
JOSÉ BONIFÁCIO DEANDRADE E SILVA
JUVENTUDE
MOCIDADE
A mocidade esplêndida, vibrante,
Ardente, extraordinária, audaciosa,
Que vê num cardo a folha de uma rosa,
Na gota de água o brilho dum diamante;
Essa que fez de mim Judeu Errante
Do espírito, a torrente caudalosa,
Dos vendavais irmã tempestuosa,
-- Trago-a em mim vermelha, triunfante!
No meu sangue rubis correm dispersos:
-- Chamas subindo ao alto nos