Poemas
Se é sem dúvida amor está explosão de tantas sensações contraditórias; A sórdida mistura das memórias, tão longe da verdade e da invenção;
O espelho deformante; a profusão de frases insensatas, incensórias;
A cúmplice partilha nas histórias do que os outros dirão ou não dirão;
Se é sem dúvida Amor a cobardia de buscar nos lençóis a mais sombria razão de encantamento e de desprezo;
Não há dúvida, Amor, que te não fujo e que, por ti, tão cego, surdo e sujo,
Tenho vivido eternamente preso!
Navio errante
M. ª Eugénia Lima
Navio errante,
Atraquei ao cais do Amor.
Daí em diante
Fui-me ao sabor
De ondas, pária
De incerto rumo, bússola perdida.
Onde a linha imaginária
Do verde equador
Da minha vida?
Navio errante,
Sem leme nem comandante,
Meu sonho é corcel sem rédea
A gravitar na linha média
Entre o equador
E o cais do Amor!
Soneto 96
William Shakespeare
De almas sinceras a união sincera Nada há que impeça. Amor não é amor Se quando encontra obstáculos se altera Ou se vacila ao mínimo temor. Amor é um marco eterno, dominante, Que encara a tempestade com bravura; É astro que norteia a vela errante Cujo valor se ignora, lá na altura. Amor não teme o tempo, muito embora Seu alfanje não poupe a mocidade; Amor não se transforma de hora em hora, Antes se afirmar, para a eternidade. Se isto é falso, e que é falso alguém provou, eu não sou poeta, e ninguém nunca