Poema
Mudanças Climáticas
Arde em mim um fogo
Do qual só sinto o cheiro pesado de sua fumaça.
Os animais dentro da minha mata correm perdidos em todas as direções, tentando escapar das labaredas cada vez mais altas.
Eles não encontram saída...
Fervem em mim águas de todas as geleiras.
O nível do mar de minha alma transborda,
Camadas e mais camadas de gelo derretem-se,
E só tem uma saída: os olhos que derramam lágrimas de muitos ciclos de gelo e fogo.
Diz a parábola que a espada precisa do fogo, e precisa da água
Para alcançar a fortaleza.
Que não suporta tantas mudanças climáticas, gelo, degelo e fogo, fumaças e cinzas.
Minha floresta interna que sossego. Quer as águas descendo, do alto da nascente do mar. Quer a chuva fina, todo fim de tarde, de vez em quando chacoalhar, com raivas e trovões, na noite escura.
Minha floresta interna quer o equilíbrio, ouvindo apenas vozes de grilos e sapos, e ainda o som do riacho dobrado a esquina em cada pedra.
Meus animais internos, sobretudo os tucanos, os cavalos e leões, querem voar e correr para muito longe sem horizontes limitados.
Esses meus animais querem a certeza de que o caminho de volta permaneça o mesmo.
Ainda que a paisagem mude por força do vento, das águas e do tempo, a minha floresta quer ser a mesma sempre.
Minhas emoções não podem ser recicladas
Nem neutralizada
Elas são únicas.
E assim como a natureza externa do mundo tem seus ciclos
A minha natureza também.
Ela precisa cambiar as emoções
Para dar espaço a outras.
Mas sempre preservado o principal:
Que é essência do meu ser.