Poema
Ai que prazer não cumprir um dever.
Ter um livro para ler e não o fazer!
Ler é maçada, estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal, sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal como tem tempo, não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa
Feito em 16/03/1935, o poema "Liberdade" é um dos poemas mais conhecidos e citados de Fernando Pessoa.
Sua relação com o estoicismo, vem do que Séneca dizia. Para ele, o cumprimento do dever era um serviço à humanidade. O destino estava predestinado, o homem pode apenas aceitá-lo ou rejeitá-lo, mas apenas a aceitação lhe pode trazer a liberdade.
É aqui onde vemos o estoicismo dentro do poema. Pois Fernando Pessoa escreve uma coisa, mas pensa o contrário. Se ele diz que bom é não cumprir um dever, ele pensa o contrário, que o dever é essencial para a liberdade, e se o homem quiser ser livre, terá de se submeter ao cumprimento do dever imposto