Poema
De gatos, poemas e sorrisos: a “gatografia” de Ana Cristina Cesar
Mônica Genelhu Fagundes*
Resumo
Ana Cristina Cesar criou dez poemas, reunidos em seu Inéditos e dispersos (1998), que giram em torno da figura do gato e do que seria uma “gatografia”, neologismo cunhado pela própria Ana C. para definir seu trabalho poético. Em busca dos mecanismos e do sentido desse fazer criativo, nosso ensaio propõe uma análise de um dos poemas que compõem a série das “gatografias”: “Arte-manhas de um gasto gato”, exercício lúdico-poético em que se pratica – e reflete-se sobre – a tão felina artimanha de furtar, que se faz correspondente à tão moderna arte de citar. Exemplo de uma escrita como “ladroagem” (termo caro a
Ana C.), o poema funda-se numa poética da releitura, fazendo-se espaço de encontro e diálogo de diferentes vozes da tradição literária moderna (Baudelaire, T. S. Eliot, Drummond, entre outros), de que Ana C. gatunamente se apropria, transformando-as criativamente.
Palavras-chave:
Palavras-chave Ana Cristina César; Literatura comparada; “Gatografia”.
* Doutoranda em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ);
Mestre em Literatura Comparada pela UFRJ.
273
SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 11, n. 20, p.273-288, 1º sem. 2007
Revista Scripta250608finalgrafica.pmd
273
25/6/2008, 12:58
Mônica Genelhu Fagundes
Publicado no Inéditos e dispersos de Ana Cristina Cesar (1998) como último elemento da série de “gatografias” da poetisa, “Arte-manhas de um gasto gato” é o mais longo dos poemas que a constituem e o único a ter um título, bem como uma indicação do local em que foi escrito: a Biblioteca Padre Augusto Magne, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Essa última informação, que a princípio poderia parecer de pouco ou nenhum valor para a análise do poema, guarda em si, na verdade, o índice sob o qual se inscreve toda a