Poema "Vida revisitada"
São vidas reais: atravessadas por histórias...
O meu pai não sei quem é...
Minha mãe, doce aconchego, horas sem descansar...
Lembro-me das cantigas, daquela voz rouca de minha avó que, antes de dormir, me acariciava e dizia “_Um dia você vai saber!”
E eu, ainda criança, sem compreender que mundo é esse...
Dormi sem entender...
E chorei por dentro...
Acordei já era jovem.
Sentado, naquela cadeira da escola, ouvia meus colegas falando de suas vidas, suas famílias...
Alguns tinham pai e mãe; outros moravam com avós.
São tantas histórias...
E o Joãozinho, que não tinha família
Não tinha, ou ele escondia!
O Zeca morava com a tia, a Laura era do Lar “Caminho”...
Dizem que ela foi abandonada ao nascer...
E o Pedrinho_ coitado!
Vem sem meia todo dia...
Então, hoje, com meu filho no colo, recordo-me, tão logo, das palavras de minha avó...
Entendi que suas cantigas eram lições de vida me ensinando a aceitar que ninguém é perfeito!
Cada um é do seu jeito...
Não dá pra rotular.
Tem família de todo tipo grande, pequena, mais ou menos.
E cada qual busca uma forma de poder compartilhar: carinho, afeto, dor e solidão.
Minha avó estava certa naquilo que havia dito:
“- Família é construção, não dá para ter norma não!
Agora eu cresci e entendi.
Em matéria de família, não tem fórmula, nem be-a-bá!
Tem pai que é mãe também...
Tem avó que vira mãe...
Tem irmão que é como um pai
Tem vizinho que dá carinho...
E tem gente que não tem ninguém.
Então, eu despertei!
Revisitei meu andar!
Percebi que o viver não se pode calcular... Um mais um pode ser três...
E talvez o que importe de fato seja o jeito de caminhar...
Meire de Souza Neves