Poema incomum
Para Marta Garcia
Há em mim
Uma vida que não é minha
E nesta vida
Há uma vida que não é dela
E nas histórias que conto
E nos desenhos que olho
E nos momentos que descrevo
Absorto, crio um mundo além do meu
Nas páginas de sol-a-sol
Escrevo fatos com o corpo mal criado
De menino travesso
Que navega na lama do passado
Porque o sol põe-se a cada página virada
E não retorna
Pois o livro de minha vida
É uma leitura sem volta
Itamar de Vasconcelos
or onde andou sombra atrevida?
Numa rua? num moinho?
Ou num sol que se perdeu?
E te retornas, diabólica alma
Para assombrar minh'alma
E descobrir em mim fraquezas
Que o tempo não venceu.
Mil horas para morrer
Eu morro morro quando acordo morro quando escolho e morro em ficar calado morro quando vejo morro irritado e morro em ficar calado eu morro de mãos fechadas morro assustado morro quando respiro e morro em ficar calado morro quando digo sim ao erro morro quando assisto o pecado e ainda assim fico calado morro quando olho de lado o menino que anda descalço morro quando jogo pedras naquele que está apedrejado morro na rua estreita quando ando despreocupado morro pedindo socorro e morro em ficar calado morro ao entrar na escola e ver tudo alagado morro no banco de espera num hospital lotado morro ao ver a agonia de um povo desesperado morro e ver a pobreza no espírito do "ajuizado" e vendo tudo isso eu morro em ficar calado.
Há real motivo para viver?
Então ensina-me como viver,
Pássaro Torto, tu o mais torto
Da ninhada dos ostraceiros sei, tu serás o primeiro que comigo virá morrer porque os sonhos se desgastam no intento em não os viver e nas curvas do espaço tuas penas vão ceder à pressão que me desmancha sou fraco no "poder" querer, queria e quero mas nem o canto do quero-quero está livre dos mercês da morte que nos espera no fim da primavera do inicio de cada mês porque não há vida, torto nem o sal já nos traz gosto se o silêncio de nossos medos afincam os nossos dedos em vazios de lucidez
POETA MORTO
o