Poema de sete faces
Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos não perguntam nada.
O homem atrás do bigode é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos o homem atrás dos óculos e do -bigode,
Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo.
Carlos Drummond de Andrade
Direito – Noturno
Enaile Sousa Lima de Castro
POEMA DE SETE FACES
Carlos Drummond de Andrade: Apenas mais uma reflexão.
Fortaleza
2013
Apenas mais uma reflexão
O Poema intitulado “Poema de sete faces” de Carlos Drummond de Andrade através de suas estrofes reveladoras da natureza tímida do eu lírico, que demonstra segurança e indiferença aos prazeres carnais mais que no seu íntimo lamenta e questiona ao próprio Deus seus infortúnios. Quando leio o poema me vem à cabeça um turbilhão de informações e chego a pensar que “todos” somos Carlos, que embora aparentemente felizes, temos uma máscara bigoduda que não transpassa nossa natureza frustrada e insatisfeita. Será que eu seria mais feliz se fosse o outro? Será que o outro realmente é tão feliz como demonstra? Perguntas difíceis de serem respondidas sem se conhecer a verdadeira essência do ser (como se ao menos conhecemos a nós mesmo), entretanto me dizem muito sobre o poema e me levam a crer que seja sua raiz. Não me atrevo a afirmar ser autobiográfico, porém dentro de