Pobre é quem paga a conta
Gabriela Allegrini*
Comparando a outros países, uma das maiores injustiças do Brasil é que pobres pagam muitos impostos e ricos contribuem pouco. Valor para financiar serviços públicos também é abaixo do necessário.
Fonte
Artigo publicado originalmente na revista Caros Amigos (São Paulo, ano XVII, n. 203, p.
14-17, fev. 2014).
A mesma mentira repetida milhares de vezes acaba virando verdade. Quantas vezes você já ouviu dizer que o Brasil arrecada muito em impostos e dá em troca um dos piores serviços do mundo. A meia verdade ou meia mentira, no caso, é que quem se beneficia da injustiça esquece de contar a história inteira. A carga tributária no Brasil é uma das maiores do mundo sim, mas para a população mais pobre, que chega a comprometer quase metade de sua renda com impostos e taxas. “Vários estudos mostram que quem ganha até 2 salários mínimos paga até 49% dos seus rendimentos em tributos, enquanto os que recebem acima de 30 salários desembolsam apenas 26%. Ou seja, a carga tributária é perversa por penalizar as acamadas de menor renda”, afirma Amir Khair, mestre em finanças públicas pela Fundação Getúlio Vargas
(FGV).
Essa é a meia verdade escondida por todas as matérias nos grandes meios de comunicação ou em iniciativas como o impostômetro, das associações comerciais de São Paulo, que, volta e meia, ganha destaque por conta dos recordes de arrecadação. Neste início de ano, as atenções mais uma vez se voltaram para o volume da nossa carga tributária quando a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou, em janeiro, a relação dos países da América Latina que mais arrecadam impostos em comparação ao seu Produto
Interno Bruto (PIB). Entre 18 países, o Brasil ficou atrás apenas da Argentina.
A afirmação que nossa carga tributária é excessiva precisa ser relativizada. De fato, 35% ou
36% do PIB é um número bastante razoável se considerarmos o fato de que os países muito
ricos