platão

CIÊNCIA POLÍTICA I

A Justiça na cidade e no indivíduo (PLATÃO, A República, 430d – 434d)
Sócrates - Desde logo – continuei – nos resta encontrar ainda duas virtudes na cidade, a temperança, e o objeto de toda a nossa busca, a justiça.
Glauco - Perfeitamente.
- Pois bem! Como poderíamos encontrar a justiça, sem nos ocupar mais da temperança?
- De nada sei - replicou - mas não gostaria que ela se nos apresentasse primeiro, se por isso deixarmos de examinar a temperança. Se queres dar-me o prazer, examina antes esta última.
- Mas é claro que eu quero; eu faria mal em recusar.
- Examina-a portanto – disse ele.
- É o que vou fazer. E, a ver as coisas daqui, ela se assemelha, mais do que as virtudes precedentes, a um acordo e a uma harmonia.
- Como?
- A temperança é de algum modo uma ordem, um senhorio exercido sobre certos prazeres e certas paixões, como indica, de uma forma que não compreendo muito bem, a expressão corrente "senhor de si mesmo", e outras parecidas, que são, por assim dizer, traços desta virtude, não são?
- Com toda certeza.
- Ora, a expressão "senhor de si mesmo" não é ridícula? Quem é senhor de si mesmo é também, suponho, escravo de si mesmo, e quem é escravo é senhor; pois em todos esses casos a pessoa designada é a mesma. - Sem dúvida.
- Mas esta expressão me parece querer significar que há na alma humana duas partes: uma superior em qualidade e outra inferior; quando a superior por natureza comanda a inferior, afirma-se que o homem é senhor de si próprio – trata-se seguramente de um elogio; mas quando, devido à má educação ou a alguma frequentação nociva, a parte superior, que é a menor, se vê dominada pela massa dos elementos que compõem a inferior, condena-se esta dominação como vergonhosa e diz-se do homem em semelhante estado que ele é escravo de si próprio e desregrado.
- A explicação me parece justa - disse ele.
- Lança, pois, os olhos – continuei – sobre a nossa jovem cidade; encontrarás aí realizada uma dessas