Platão resumo
Ao proferir estas palavras, julgava ter-me livrado da discussão; mas, na verdade, não passava de um prelúdio. Com efeito, Glauco, que se mostrava corajoso em todas as ocasiões não admitiu a retirada de Trasímaco:
Glauco – Contenta-te, Sócrates, em fingir que nos convenceste ou queres convencer-nos realmente de que, de qualquer maneira, é melhor ser justo que injusto?
Sócrates – Preferiria convencer-vos de verdade, se isso dependesse de mim.
Glauco – Então, não fazes o que pretendes. Com efeito, diz-me: não te parece que existe uma espécie de bens que buscamos não objetivando as suas conseqüências, mas porque os amamos em si mesmos, como a alegria e os prazeres inofensivos que, por isso mesmo, não têm outro efeito que não seja o deleite daquele que os possui?
Sócrates – Sim, acredito sinceramente que existem bens dessa espécie.
Glauco – E não existem bens que amamos por si mesmos e também por suas conseqüências, como o bom senso, a visão, a saúde? Com efeito, tais bens nos são preciosos por ambos os motivos
Sócrates – Sim.
Glauco – Mas não vês uma terceira espécie de bens como a ginástica, a cura de uma doença, o exercício da arte médica ou de outra profissão lucrativa? Poderíamos dizer destes bens que exigem boa vontade; nós os buscamos não por eles mesmos, mas pelas recompensas e as outras vantagens que proporcionam.
Sócrates – Concordo que essa terceira espécie existe. Mas aonde queres chegar?
Glauco – Em qual dessas espécies tu colocas a justiça?
Sócrates – Na mais bela, creio, na dos bens que, por si mesmos e por suas conseqüências, deve amar aquele que quer ser plenamente feliz.
Glauco – Não é a opinião da maioria dos homens, que põem a justiça no nível dos bens penosos que é preciso cultivar pelas recompensas e distinções que proporcionam, mas que devem ser evitados por eles mesmos, porque são difíceis.
Sócrates – Eu sei que é essa a opinião da maioria. É