planificação creche
Uma caixa grande de violoncelo assemelha-se bastante a um caixão, pelo que, à medida que eu transportava a minha pelo Central Juvenile Hall (Centro de Detenção Juvenil) de Los
Angeles, ia atraindo muitas atenções. Dirigia-me à capela após ter sido convencido a tocar para uma audiência de jovens reclusos pela Irmã Janet Harris, que coordenava as actividades de voluntariado. O projecto que mais a entusiasmava era um programa de escrita criativa que ela própria ajudara a criar e no qual eu começara recentemente a colaborar como professor. Os meus alunos eram
IARs, ou «infractores de alto risco», que estavam acusados de homicídio ou assalto à mão armada e aguardavam ali o respectivo julgamento.
De alguma forma misteriosa, a Irmã Janet soubera que eu tocava violoncelo nos meus tempos livres e pediu-me para dar ali um pequeno concerto. Tentei recusar, recordando-me ainda da última vez que tocara para um grupo de miúdos: fora numa festa de anos e o aniversariante pontapeara a ponta do meu instrumento, declarando que o violoncelo era estúpido e que só o acordeão conseguia ser mais aborrecido. — Irmã Janet — disse eu — já alguma vez foi a uma festa de alunos de uma escola em que a música clássica fizesse parte do programa? Pode ser uma péssima ideia...
— Ah — respondeu ela, sorridente — mas isso seria numa escola. Os nossos rapazes jamais se comportariam assim.
Após passar por um labirinto de vedações de arame, cheguei a um edifício com uma cruz no telhado. Sobrepondo a minha voz ao ruído da música que saía de um amplificador lá de dentro, apresentei-me a alguém que trazia a identificação ao peito e um walkie-talkie.
Folheando um caderno com o programa, o homem disse-me então: — O próximo é já você!
Levou-me depois para o gabinete do capelão, onde pude retirar o meu violoncelo da caixa e fazer o aquecimento para a minha actuação.
— Quando o chamarmos, vá por aquela porta, que lhe dará acesso directo ao palco —