Pixinguinha
Músicos, musicólogos e amantes de nossa música podem discordar de uma coisa ou outra. Afinal, como diria a vizinha gorda e patusca de Nélson Rodrigues, gosto não se discute. Mas, se há um nome acima das preferências individuais, este é Pixinguinha. O crítico e historiador Ari Vasconcelos sintetizou de forma admirável a importância desse fantástico instrumentista, compositor, orquestrador e maestro: “Se você tem 15 volumes para falar de toda a música popular brasileira, fique certo de que é pouco. Mas se dispõe apenas do espaço de uma palavra, nem tudo está perdido; escreva depressa: Pixinguinha”. Uma rápida passagem pela sua vida e sua obra seria suficiente para verificar que ele é responsável por façanhas surpreendentes, como a de estrear no disco aos 13 anos de idade revolucionando a interpretação do choro. É que naquela época (1911) a gravação de disco ainda estava em sua primeira fase no Brasil e os instrumentistas pareciam intimidados com a novidade e tocavam como se tivessem pisando em ovos, com medo de errar. Pixinguinha começou com segurança total e improvisou na flauta com a mesma tranqüilidade com que tocava nas rodas de choro ao lado do pai e dos irmãos, também músicos, e dos muitos instrumentistas que formavam a elite musical do início do século XX. Pixinguinha só não era eficiente em certos aspectos da vida prática. Em 1968, por exemplo, a música popular brasileira, os jornalistas, os amigos e o próprio governo do então estado da Guanabara mobilizaram-se para uma série de eventos comemorativos pela passagem dos seus 70 anos no dia 23 de abril. Sabendo que a certidão de nascimento mais utilizada em fins do século XIX era a certidão de batismo, o musico e pesquisador Jacob Bitencourt, o grande Jacob do Bandolim, compareceu à igreja de Santana, no Centro do Rio, para obter uma cópia da certidão de batismo de Pixinguinha, e descobriu que ele não fazia 70 anos, mas 71, pois