Piotr Kropotkin - A Conquista do Pão
1
1
PREFÁCIO1
Kropotkin pediu-me para abrir este livro com algumas palavras minhas.
Acedo à sua vontade, mas faço-o, todavia, com um certo constrangimento. E a razão é que, nada trazendo que contribua para robustecer os argumentos do autor, pode suceder até que as minhas palavras tirem força às suas.A amizade, porém, tudo perdoa. Enquanto os “republicanos” consideram um requinte de bom gosto prosternar-se aos pés o czar, eu sinto-me satisfeito e envaidecido por me aproximar daqueles homens dignos sobre quem o déspota, se pudesse, cevaria os seus ódios, mandando-os vergastar nas masmorras duma cidadela ou enforcar nos fossos de qualquer presídio. No convívio desses amigos esqueço momentaneamente a abjeção dos renegados que na mocidade enrouqueciam a gritar: Liberdade! Liberdade! E que hoje celebram, com tanto entusiasmo, as bodas da Marselhesa e do Boje Tsara Khrasi2.
A última obra de Kropotkin, Palavras de um revoltado, é caracterizada por uma crítica ardente da sociedade burguesa, tão feroz como corrompida, e nela faz o autor um apelo às energias revolucionárias contra o Estado e contra o regime capitalista. A obra atual, seqüência das Palavras, é mais calma e ponderada. Nela se dirige Kropotkin aos homens de boa vontade que desejam honestamente colaborar na transformação social e expõe-lhes, a grandes traços, as fases da história iminente que nos permitirão enfim constituir a família humana sobre as ruínas dos bancos e dos Estados.
O título da obra: - A Conquista do Pão deve, é claro, ser tomado num sentido mais amplo, porque “nem só de pão vive o homem”. Numa época em que os espíritos generosos e arrojados tentam transformar o seu ideal de justiça social em realidade objetiva, as nossas ambições não se limitam à conquista do pão, vinho e o sal. – Queremos conquistas tudo o que é necessário à vida humana e até mesmo a utilidade que forma o conforto da existência; queremos a faculdade de poder assegurar a todos os homens a