pilula falante
A pílula falante de Monteiro Lobato
Emília engoliu a pílula, muito bem engolida, e começou a falar no mesmo instante.
A primeira coisa que disse foi:
– Estou com um horrível gosto de sapo na boca!
E falou, falou, falou mais de uma hora sem parar.
Falou tanto que Narizinho, atordoada, disse ao doutor que era melhor fazê-la vomitar aquela pílula e engolir uma mais fraca.
– Não é preciso – explicou o grande médico. – Ela que fale até cansar. Depois de algumas horas de falação, sossega e fica como toda gente. Isto é “fala recolhida”, que tem que ser botada para fora.
E assim foi. Emília falou três horas sem tomar fôlego. Por fim calou-se.
– Ora graças! – explicou Narizinho. – Podemos agora conversar como gente.
Emilia empertigou-se toda e começou a dizer na sua falinha fina de boneca de pano:
– O Doutor Cara de Coruja ...
– É Doutor Caramujo, Emília!
– Doutor Cara de Coruja, esse Doutor Cara de Corujíssima me apertou um liscabão.
– Beliscão – explicou Narizinho.
A menina viu que a fala da Emilia ainda não estava bem ajustada, coisa que só o tempo poderia conseguir. Viu também que ela era de gênio teimoso e asneirenta por natureza, pensando a respeito de tudo de um modo especial todo seu.
– Melhor que seja assim – filosofou Narizinho. – As idéias de tia Nastácia a respeito de tudo são tão sabidas que a gente já as adivinha antes que ela abra a boca. As idéias de Emília hão de ser sempre novidades.
Vocabulário:
Pílula– remédio em forma de bolinha, ingerido por via oral.
Atordoada – pessoa que fica zonza, tonta.
Empertigou –se - arrumou –se, endireitou – se.
Gênio – temperamento
Asneirenta - pessoa que só fala bobagem
Filosofou – meditou, raciocinar de forma lógica, pensar;
Interpretação do texto.
1º) Por que você acha que Narizinho levou Emília ao consultório do Dr. Caramujo?
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