Pesquisa e pratica
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Quando, algum tempo atrás, a Jugoslávia começou o seu deslize inexorável para o horror, uma notícia da CBC relatava que um número estimado de 250 descendentes de emigrantes croatas, jovens com corpo robusto e mente sã, deixaram o país para pegar em armas em defesa da Croácia. A notícia levantava de imediato uma questão: como é que estes jovens se definiam a si próprios? Como croatas ou croatas-canadianos? Como canadianos de descendência croata, ou croatas nascidos no Canadá? E seria interessante saber que país escolheriam se um dia fossem obrigados a isso: a terra dos seus pais, pela qual escolheram lutar, ou a terra do seu nascimento, da qual escolheram partir? […] Abandonar o seu país para se empenhar numa batalha na terra dos seus antepassados, não por ideais intelectuais mas raciais, revela, na melhor das hipóteses, lealdades divididas entre o país e a etnicidade […] Lealdades divididas revelam uma alma dividida e uma alma dividida um país dividido. Estes jovens canadianos de descendência croata não estão sozinhos na sua lealdade adulterada ao Canadá. Outros também acham impossível efectuar um comprometimento sincero para com a nova terra, os novos ideais, a nova maneira de olhar a vida.
Neil Bissoondath2
1. Neste artigo propomo-nos abordar a complexa teia de relações que se pode estabelecer entre o multiculturalismo e a segurança societal nas sociedades democráticas, pluralistas e abertas da Europa/Ocidente, tendo, para o efeito, delineado o seguinte percurso analítico: (i) clarificação conceptual do multiculturalismo nos sentidos descritivo e prescritivo do conceito; (ii) análise do multiculturalismo enquanto ideologia e política pública que promove as políticas de reconhecimento e/ou da diferença, bem como das suas repercussões sobre a concepção liberal e igualitária de cidadania, que remete as diferenças