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Novas comidas gourmet são uma forma cafona de distinção social - Notícias - UOL Opinião
Novas comidas gourmet são uma forma cafona de distinção social
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Sandro Dias
Especial para o UOL
04/09/2014
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A gastronomia tem hoje, provavelmente, o mesmo peso que atribuímos aos concertos ou às exposições de arte. Sem exagero e do mesmo modo, tanto quanto
"parecer" intelectual tinha e tem algum apelo em determinados nichos sociais, ser
"entendido" em artes da cozinha e do serviço do vinho, por exemplo, também é um elemento de distinção social.
Ingredientes ou produtos têm sido requalificados como gourmet. Veja o caso de marcadores culturais como a cachaça, que ganha distinção com o selo de premium e deixa de ser associada apenas aos consumidores mais populares. De forma análoga, frequentar determinado restaurante, pagar por isso, observar quem o frequenta e, principalmente, ser visto, é uma experiência de significado muito semelhante ao de ir a uma ópera no século 19.
O lado risível desse processo é a necessidade de muitos em estabelecer a diferença. Por exemplo, o consumo dos produtos da terra não é enaltecido pelos seus valores intrínsecos, como tradição, história ou território ou terroir, se preferir
, mas por atributos que podem nos distinguir perante a outros consumidores.
A indústria parece ter percebido isso muito rapidamente, destacando determinadas qualidades (legítimas ou não), mas sempre mirando a sanha de consumidores ávidos por se destacarem em seu meio social. Muitas vezes, pelo consumo de produtos que se autodenominam gourmet.
Outros víveres apontam para o "comfort food" de forma exagerada. Pipocas e brigadeiros, que sempre tiveram espaço em nossa memória afetiva, agora são gourmets e marcam presença em festas vips.
O consumo dos produtos da terra não é enaltecido por valores como tradição, história ou território, mas por atributos