Personalidade
Artigo original
Uma visão psicobiológica da personalidade limítrofe
Alan B. Eppel*
INTRODUÇÃO Indivíduos com diagnóstico de personalidade limítrofe têm sido foco de interesse clínico intenso no campo da psiquiatria ao longo das três últimas décadas. Tal fator está associado com altos níveis de morbidade e com um nível significativo de mortalidade por suicídio. Estima-se que pacientes com personalidade limítrofe constituam aproximadamente 11% dos pacientes psiquiátricos ambulatoriais e 19% dos internados 1 . O tratamento e o manejo do distúrbio é considerado difícil e apresenta riscos significativos. A história do desenvolvimento do conceito de distúrbio de personalidade limítrofe foi amplamente revisada por Linehan1. Entre 1938 e final da década de 70, o distúrbio de personalidade limítrofe foi descrito em termos psicanalíticos. Em seguida, desenvolveu-se uma abordagem fenomenológica, em grande
* Diretor, Serviços Psiquiátricos Comunitários, St. Joseph’s Healthcare Hamilton. Professor, Departamento de Psiquiatria e Neurociências Comportamentais, McMaster University, Hamilton, Ontário, Canadá.
parte resultante do trabalho de John Gunderson e da publicação do DSM-III, em 1980. Desde então, foram feitos avanços consideráveis na área de neurociência e no entendimento da neurobiologia do apego. Como resultado desse progresso, os vínculos entre psicologia e biologia e entre genética e fatores ambientais ficaram mais definidos. Nesse sentido, poderíamos dizer que chegamos agora à era do paradigma psicobiológico dentro da psiquiatria. O presente artigo propõe que o distúrbio de personalidade limítrofe seja fundamentalmente um distúrbio de regulagem da emoção determinado por fatores genéticos e interpessoais. Para sustentar essa proposta, faremos uso de quatro linhas de investigação: 1) teorias dimensionais de personalidade; 2) teoria do apego; 3) neurobiologia; e 4) ocorrência de abuso sexual na