Personagens do poder "Felizmente há luar!"

D. Miguel Forjaz – Primo de Gomes Freire (cf. pág. 34), D. Miguel é o representante da nobreza e o símbolo da decadência do país que governa. Absolutista convicto, é prepotente, desumano, frio e cruel, exercendo o poder de forma violenta e despótica (cf. pág. 43: “Temos que a impedir com tal brutalidade que ninguém volte a conjurar neste reino…” e pág. 131: “Lisboa há de cheirar toda a noite a carne assada…”). As suas duas longas falas das páginas 69-70 são, talvez, as que melhor esclarecem as suas principais características, merecendo, portanto, uma análise detalhada. Aí, D. Miguel revela toda a sua hipocrisia e mesquinhez e a sua ambição desmedida. Defendendo acerrimamente a manutenção do stato quo, traça o retrato do Portugal miguelista, ignorante e submisso. Desprovido de integridade, age em função dos seus ódios pessoais (cf. pág. 72: “Se eu fosse falar do ódio que lhe tenho…”), pois teme que a popularidade do general o venha a afastar do seu cargo (cf. pág. 70). Manipulador, não olha a meios para atingir os seus fins. Esta característica é, sobretudo, visível no final do Ato II (págs. 73-74). D. Miguel é caracterizado, ainda, diretamente por Sousa Falcão nas, págs. 116-119.

Principal Sousa – Representante do poder eclesiástico e símbolo da ingerência da Igreja nos assuntos do Estado, o Principal Sousa nutre um ódio mortal pela Revolução Francesa e pelos valores que ela proclama (cf. págs. 39-40). Profundamente hipócrita (cf. notas à margem nas págs. 60 e 62: “O principal Sousa, que só no segundo ato se revela inteiramente, apenas pretende salvar a sua consciência, isto é, apenas deseja ser convencido, pelos outros, da necessidade de tomar medidas, que, aliás, já está inteiramente decidido a tomar.”; “ A ingenuidade do principal Sousa não é verdadeira. Este prelado defende-se sempre, tentando mostrar-se alheio à política e às decisões em que intervém.”), parece hesitar cada vez que se trama a condenação de Gomes Freire, mas acaba por ser ele próprio a