Pensar a vida, saltar o abismo
Dulce Critelli, através do texto referido, nos apresenta os dois lados da “moeda da existência”, ao comentar o episódio no qual foi abordada por um rapaz que buscava o sentido da vida. Ora, pode ser comum o palestrante ou professor de filosofia/psicologia se deparar com um público inflado de questões e receios existenciais, porém a intensidade e natureza de cada problema devem ser distintos. É interessante observar o paralelo que a autora traça - citando Heidegger, inclusive - entre o emprego da filosofia propriamente dita como uma forma de se compreender a realidade e assim direcionar a vida, e o quanto essa filosofia pode ser de pouca utilidade se comparada a grandes feitos tecnológicos, por exemplo.
Entretanto, devemos pensar que essa “dor de intensidade quase insuportável” muitas das vezes é de fato insuportável, e o deixa de ser apenas quando o salto se ruma diretamente ao abismo. Podemos pensar que as dificuldades e problemas imediatos do cotidiano não se encontram tão distantes assim da configuração da existência, uma vez que eles são parte integrantes da existência em si. Devemos pensar que quando a vida perde totalmente o significado, não há mais autor, ator e juiz; não há explicação, sentido, modelo cultural, inspiração ou referência - o que resta, talvez, seja força. A força que irá impulsionar o último salto. Para tal, inegavelmente, o vivente também passa pelo crivo do pensamento, da reflexão, da preparação, e acima de todos estes, pelo crivo da coragem.