Pensamento político é o agir cotidiano
Ações coletivas ou não têm origem no pensamento político que não atua no campo da logos (ideias) como a filosofia política ou a ideologia, mas é uma ponte entre a logos e a práxis (atividade prática)
Mais de 90% dos internatuas que acessaram a matéria no site Caçador.net, sobre o sequestrador de uma menina de 14 anos, Luiz Fernando dos Santos, de 20 anos, morto pela polícia ao reagir à prisão, nesta semana, exporam sua adoração pela Justiça feita à base de sangue. Numa retórica contestadiana invocaram o jargão “bandido bom é bandido morto”. Sem combinar, sem manipulação de cérebros, eles convergiram para um sentimento popular. Eles pensaram políticamente. Se pudessem, a eles próprios seria reservada a morte de Santos. Uma das mentes mais brilhantes deste País, o sociólogo jurista e cientista político Raymundo Faoro (in memoriam) cuja família ainda é ramificada em Caçador, flertou sobre a definição do termo ‘pensamento político’ em seu livro “Existe um pensamento político Brasileiro?”. Definiu muito bem, que é uma ação ‘informulada’, que reside mais na ação, na atividade política, que no campo da logos (ideias). “O pensamento político de cada um não se afirma na forma intelectual, mas na atividade real implícita na ação, ainda que, à margem desta, afirme-se outra ideia”, definiu. É nesse campo fértil de possibilidades que o pensamento político atua, sem amarras legais. Não à toa os internautas apreciaram ver o sequestrador morto. Faoro cita exemplo semelhante: “O preconceito racial, por exemplo, se representa um traço do pensamento político, obstinar-se-á em se manter, ainda que as sanções penais o repudie”, descreve.
Para o escritor, o pensamento político situa-se a uma linha muito tênue entre o pensar e o agir. “O pensamento político é uma atividade: a atividade é o território da prática. A atividade é e ainda não é. ‘a atividade envolve uma discrepância entre o que é e o que desejamos que venha a ser”, filosofa.