Pedofilia
O objetivo desse artigo é partir da (in)definição daquilo que Judith Butler apresenta com sendo “corpo abjeto”, para pensar alguns movimentos discursivos a partir do corpus de minha pesquisa, que consiste em um conjunto de enunciados postados por sujeitos autodenominados como pedófilos e sujeitos não-pedófilos em um sitio da internet (no orkut) e que tangem o tema da pedofilia. Em outras palavras, procuro refletir sobre como o pensamento de Butler, que ressoa de um texto que aqui recorto, se faz útil para pensar meu objeto de estudo, qual seja, os discursos que sustentam e constituem o que seja o “ser pedófilo”. Por ocasião de sua visita na Holanda, Judith Butler concedeu uma entrevista[1] para Prins e Meijer, em que afirma que suas proposições sobre a existência de corpos abjetos são propositalmente contraditórias e que elas são colocadas como fórmulas performativas feitas para impor ou invocar uma existência 'impossível'; são ficções que querem criar 'realidades'. Mas do que se trata essa “existência impossível”? Retomarei essa questão mais adiante para refletir os sentidos que o termo “boylover” evoca a partir de enunciados constantes em meu corpus. Nestas reflexões, aparecerá, implicitamente, aquilo que considero como sendo o que Butler, nessa entrevista, evoca com a expressão “existência impossível”. Ou melhor, procuro tomar essa expressão para discutir o tema deste artigo, a saber, os sentidos do termo “boylover”. Contudo, por hora cabe apenas examinar o que é dito na entrevista e tomá-lo como pista para entender melhor as intenções que (con)cernem a expressão “existência impossível”. Suponho que essa expressão aponta para a idéia de abjeto; idéia que tomo emprestada para discutir a polêmica em torno do termo “boylover”, empregada pelos “pedófilos”, e que desvela os movimentos discursivos que subjazem o uso desse termo. As entrevistadoras afirmam: “Carolyn Heilbrun, em um ensaio sobre o valor da