Pedagogia
Escola:
Texto I
Futebol de rua
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Não sei se alguém, algum dia, por farra ou por nostalgia, botou num papel as regras do futebol de rua. Elas seriam mais ou menos assim:
DA BOLA – A bola pode ser qualquer coisa remotamente esférica. Até uma bola de futebol serve. No desespero, usa-se qualquer coisa que role, como uma pedra, uma lata vazia ou a merendeira do seu irmão menor, que saíra correndo para se queixar em casa. No caso de usar uma pedra, lata ou outro objeto contundente, recomenda-se jogar de sapatos. De peferência os novos, do colégio. Quem jogar descalço de cuidar para chutar sempre com aquela unha do dedão que estava precisando ser aparada mesmo. Também é permitido uso de frutas ou legumes em vez de bola, recomenda-se nestes casos a laranja, a maçã, o chuchu e a pêra. Desaconselha-se o uso de tomates, melancia e, claro, ovos. O abacaxi pode ser utilizado, mas aí ninguém quer ficar no golo.
DAS GOLEIRAS – As goleiras podem ser feitas com, literalmente o que estiver à mão. Tijolos, paralelepípedos, camisas emboladas, os livros da escola, a merendeira do seu irmão menor, e até o seu irmão menor apesar dos seus protestos. Quando o jogo é importante, recomenda-se o uso de latas de lixo. Cheias, para aguentaram o impacto. A distância regulamentar entre uma goleira e outra dependerá de discussão prévia entre os jogadores. Às vezes esta discussão demora tanto que quando a distância fica acertada está na hora de ir jantar. Lata de lixo é virada é meio golo.
DO CAMPO – o campo pode ser só até o fio da calçada, calçada e rua, calçada, rua e a calçada do outro lado e – nos clássicos – o quarteirão inteiro. O mais comum é jogar-se só no meio da rua.
DA DURAÇÃO DO JOGO – Até a mãe chamar ou escurecer, o que vier primeiro. Nos jogos noturnos, até alguém da vizinhança ameaçar chamar a polícia.
(...) Luis Fernando Verissimo. In: Carlos Eduardo Novaes e outros. Para gostar de ler. 2. ed. São Paulo, Ática,