pedagogia

Num estudo bastante sugestivo, onde procura estabelecer um sumário das diferentes tradições de pesquisa sobre o ensino, TARDIF (2000a) discute, a certa altura, critérios de pertinência que lhe permita enquadrar os trabalhos do pesquisador norte-americano Lee S. Shulman. Poderia incluí-lo na tradição de estudos sobre o pensamento dos professores (“Teacher’s thinking”), uma vez que seu interesse se volta para os “processos cognitivos de transformação da matéria a ser ensinada nos conteúdos efetivamente ensinados” (p. 28), ou seja, procura investigar os mecanismos pelos quais os professores conhecem a sua matéria, que compreensão chegam a possuir dela e como a representam para ensinar. Entretanto, prefere posicioná-lo, não no grupo das tradições de inspiração psicológica, onde aquela se situa, mas junto às tradições de pesquisa sobre os saberes escolares, onde se incluem as “pesquisas em torno do saber a ensinar e do saber-ensinar” (pp. 27-29). Ora, considerando-se que Shulman não se interessa, de fato, pelos saberes escolares considerados em si mesmos (currículos, matérias escolares, sua história, organização e ideologia etc), como justificar essa decisão?
Segundo TARDIF (2000a), essa opção se justifica pela importância central, na reflexão de Shulman, do conceito de “conhecimento do conteúdo pedagógico” (pedagogical content knowledge). Tal conceito, por um lado, distancia Shulman de uma visão estritamente disciplinar, na medida em que “coloca a atividade cognitiva do professor no centro da transmissão dos saberes escolares”; por outro lado e até certo ponto, também afasta o autor de uma reflexão centrada no pensamento dos professores, da ótica do “profissional reflexivo”, de Donald Schön, porque “não se trata de uma transmissão pura e simples, mas de uma transformação” (p. 28). Nesse ponto é preciso explicar-se: não se pretende uma simplificação e uma redução das idéias de Schön, mas de considerá-las como um ponto de vista que defende uma concepção de ensino e uma