pedagogia
MAGDA SOARES*
V
ou tentar aqui defender a especificidade da alfabetização e a sua importância na escola, ao lado do letramento.
O que poderíamos chamar de acesso ao mundo da escrita – num sentido amplo – é o processo de um indivíduo entrar nesse mundo, e isso se faz basicamente por duas vias: uma, através do aprendizado de uma “técnica”. Chamo a escrita de técnica, pois aprender a ler e a escrever envolve relacionar sons com letras, fonemas com grafemas, para codificar ou para decodificar. Envolve, também, aprender a segurar um lápis, aprender que se escreve de cima para baixo e da esquerda para a direita; enfim, envolve uma série de aspectos que chamo de técnicos. Essa é, então, uma porta de entrada indispensável.
*Professora emérita da UFMG.
Parte de palestra proferida na FAE UFMG, em 26/05/2003, na programação “Sexta na Pós”.
Transcrição e edição de José Miguel Teixeira de Carvalho e Graça Paulino.
Imagem: O fazedor de palavras - Lúcia Castelo Branco (poema) e Maria José Boaventura / Liliane Dardot (ilustração),
p.15
A REINVENÇÃO DA ALFABETIZAÇÃO
A outra via, ou porta de entra-
convencional da leitura e da escri-
das avaliações nacionais. O último
da, consiste em desenvolver as
ta e das relações fonema/grafema,
SAEB mostrou um resultado terrí-
práticas de uso dessa técnica. Não
do uso dos instrumentos com os
vel: aproximadamente 33% dos
adianta aprender uma técnica e
quais se escreve, não é pré-requisi-
alunos com quatro anos de escola-
não saber usá-la. Podemos perfei-
to para o letramento.
ridade ainda são analfabetos.
tamente aprender para que serve
Não é preciso primeiro apren-
Quais são as causas dessa
cada botão de um forno de
der a técnica para depois aprender
perda da especificidade da alfabe-
microondas, mas ficar sem saber
a usá-la. E isso se fez durante
tização? É muito difícil analisar os
usá-lo. Essas duas