Pedagogia do oprimido
como instrumento da opressão.
Seus pressupostos, sua crítica
Quanto mais analisamos as relações educador-educandos, na escola, em qualquer de seus níveis, (ou fora
dela), parece quemais nos podemos convencer de que estas relações apresentam um caráter especial e
marcante –o de serem relações fundamentalmente narradoras, dissertadoras.
Narração de conteúdos que, por isto mesmo, tendem a petrificar- se ou a fazer -se algo quase morto,
sejam valores ou dimensões concretas da realidade. Narração ou dissertação que implica num sujeito –o
narrador –e em objetos pacientes, ouvintes –os educandos.
Há uma quase enfermidade da narração. A tônica da educação é preponderantemente esta – narr ar,
sempre narrar.
Falar da realidade como algo parado, estático, compartimentado e bem comportado, quando não falar ou
dissertar sobre algo completamente alheio à experiência existencial dos educandos vem sendo, realmente,
a suprema inquietação desta educação. A sua irrefreada ânsia. Nela, o educador aparece como seu
indiscutível agente, como o seu real sujeito, cuja tarefa indeclinável é "encher” os educandos dos
conteúdos de sua narração. Conteúdos que são retalhos da realidade desconectados da totalidade em que
se engendram e em cuja visão ganhariam significação. A palavra, nestas dissertações, se esvazia da
dimensão concreta que devia ter ou se transforma em palavra oca, em verbosidade alienada e alienante.
Dai que seja mais som que significação e, assim, melhor seria não dizê- la.
Por isto mesmo é que uma das características desta educação dissertadora é a “sonoridade” da palavra e
não sua força transformadora. Quatro vezes quatro, dezesseis; Pará, capital Belém, que o educando fixa,
memoriza, repete, sem perceber o que realmente significa quatro vezes quatro. O que verdadeiramente
significa capital, na afirmação, Pará, capital Belém. Belém para o Pará e Pará para o Brasil
1