paulo leminski
Ronald Augusto | 29 abr 2013 | Crítica
Féretro para uma gaveta
(Paulo Leminski) esta a gaveta do vício rimbaud tinha uma muitas hendrix mallarmé nenhuma esta a gaveta de um armário impossível1
Os poetas de fato relevantes – aqueles que, segundo a definição de Décio Pignatari, ajudam “a fundar culturas inteiras”2 – estão todos mortos. Eles precisaram morrer, ao menos durante algum tempo e, principalmente, para os seus leitores e continuadores. A prova de sua relevância pode ser confirmada no momento em que a poesia que realizaram consegue romper essas intermitentes passagens opacas impostas pelo esquecimento. Todavia exsurgem mais vigorosos depois disso. Não é o caso, paradoxalmente, do poeta Paulo Leminski, pois seu vulto ainda parece se encontrar entre nós. Leminski, entre outros motivos, não é relevante porque ainda não está morto. No diálogo Fédon, Sócrates – não muito distante do momento de ingerir o veneno – ao defender a ideia segundo a qual homens de bom senso não devem irritar-se com a proximidade da morte, parece não ver a hora de estar junto daqueles homens que já morreram e que valem mais do que os que ficarão após seu fim.3 Se Platão não nos prega uma peça quando, pela boca de Sócrates, afirma que, segundo uma antiga tradição grega, a morte é muito melhor para os bons do que para os maus, então talvez encontremos aí uma explicação, ainda que inadvertidamente cômica, para essa insistência em preservar vivo Paulo Leminski.
Digamos de outro modo, o poeta segue vivo na devoção e na continuação, como mimese rebaixada de sua poesia, na poesia de muitos dos seus discípulos diretos ou indiretos. Segue vivo naquele sentido em que seus admiradores mais radicais teimam em não aceitar a morte do mestre. Segue vivo da mesma maneira como seguem vivos, ainda, Elvis, Elis e Raul. Não faz muito Paulo Franchetti fez, a este propósito, uma observação parecida: “Neste momento, Leminski continua a ser uma presença forte na