Paulicéia Desvairada
Paulicéia Desvairada, obra de Mário de Andrade publicada em 1922, mesmo ano da Semana de Arte Moderna, foi um marco da literatura brasileira e traçou os alicerces da estética do Modernismo no país. A antologia de contos do escritor paulista foi a primeira obra realmente de vanguarda do movimento Modernista.
Rompendo radicalmente com as obras anteriores de Mário de Andrade, Paulicéia Desvairada faz uma análise do provincianismo e da sociedade paulista do começo do século XX. Anos mais tarde, na conferência “O Movimento Modernista”, o escritor definiu o livro como “áspero de insulto, gargalhante de ironia”.
Entre outros aspectos, Paulicéia Desvairada surgiu em um cenário de mudanças em São Paulo, que ganhava uma paisagem cada vez mais urbana e menos rural. Além disso, naquele período teve início o processo de explosão demográfica na cidade e a chegada dos imigrantes de diversos países.
Durante a Semana de Arte Moderna de 1922, um dos poemas de Paulicéia lidos ao público foi Ode ao Burguês. A questão era que a própria plateia era o alvo de versos da poesia como: "Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,/ o burguês-burguês!/ A digestão bem-feita de São Paulo!/ O homem-curva! O homem-nádegas!/ O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,/ é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!".
Ao contrário de outros artistas como Menotti del Picchia e Manuel Bandeira, Mário de Andrade foi quem rompeu com maior rispidez a relação entre o Modernismo e as escolas anteriores. Esse desprendimento integral pode ser notado no famoso Prefácio Interessantíssimo, no qual o autor indica, de forma mordaz e espirituosa, as bases da criação de Paulicéia Desvairada. "Imagino o seu susto, leitor, lendo isto. Não tenho tempo para explicar: estude, se quiser (...)", escreveu o autor.
Permeando as páginas de Paulicéia Desvairada, são encontrados deboches, perturbações e suspeitas de Mário de Andrade em relação ao lugar em que foi criado: São Paulo. Porém, a grande